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O relógio de meu pai

Sobre passado, presente, lembranças e mistérios.

E amor, é claro❤️

Minha mãe morreu em 2012. Meu pai em 2 mil e pouco - nunca me lembro o ano exato (e nem procuro saber, pra que?)

D. Heloisa fotografava todo e qualquer evento, visitas, viagens, aniversários. Reuniu ao longo da vida centenas daqueles pequenos álbuns que estampam na capa o nome da loja de revelação, do tempo que a gente ainda congelava as imagens em papel. Ela tinha também os álbuns mais chiques, de capa dura e papel de seda separando as páginas. Tinha orgulho em mostrar as fotografias para as visitas e recontar cada momento e os personagens de suas histórias . E eu, que herdei essa mania da minha mãe, me intitulei a guardiã do acervo dela. Só que o tempo passou, eu em Brasília e todo esse material no Rio de Janeiro ... e até que chegasse até a mim... demorou 4 anos. Por enquanto, são duas mochilas cheias para eu organizar. E cadê a coragem?? é remexer em muitas emoções, revirar o tempo, rir, chorar, sei lá... Fiquei protelando.

Dia 9/3 foi aniversário do meu pai, faria 96 anos. Por puro acaso, resolvi nesse dia remexer nas fotografias para buscar alguma especial, que eu estivesse junto dele. Olhei, olhei mas logo desisti e fechei a mochila.

Sim, sim... como filha única, tinha certos privilégios, me sentia totalmente protegida por ele. Respirava aliviada quando meu pai chegava do trabalho e reinava em nosso lar, era o guardião da família. E quando sr. Flávio chegava em casa, tratava logo de tirar a aliança, os documentos e a caneta que ficava presa no canto do bolso da camisa. E se libertava do relógio prateado do pulso, do objeto que o prendia no tempo, que o acompanhou durante décadas.

Era dele, só dele, uma parte do ⏱.

Na noite do dia 9/3/2016, meu irmão Pedro veio buscar uma das mochilas. E enquanto conversávamos, eu passava os álbuns para outra bolsa. E dai foram surgindo umas caixas surradas, desbotadas, esquecidas: dentro, medalhas concedidas aos nossos pobres heróis da II Guerra Mundial.

E mais: medalhinhas, moedas antigas, grampos de gravata e ... SURPRESA... O RELÓGIO DO MEU PAI!

ali, diante de nossos olhos, numa velha caixa acolchoada, quietinho, os ponteiros adormecidos. Eu e meu irmão ficamos completamente enternecidos com a descoberta.

Pedro, dos filhos, é o que mais se parece com sr. Flávio. E foi quem assumiu o difícil papel de administrar o antes e o depois das perdas de nossos pais. E foi para quem o relógio chegou de mansinho , como se o verdadeiro dono lhe entregasse o presente.

E é no pulso dele que agora os ponteiros voltaram a girar com vida, avisando que o tempo não para, que a história não tem fim. Ensinando o verdadeiro sentido

da palavra HERANÇA. ⏱⏳❤️

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