Trata-se do primeiro livro da autora, um livro de poesias, repleto de sentimentos em versos. A maior parte dos poemas falam de amor, e apesar dos versos e das estrofes mais longas, a sua escrita me lembrou muito a da Ryane Leão.
Na apresentação, feita pela própria escritora, tomamos parte de como sua escrevivência começou: "A poesia entrou na minha vida pelo som da vitrola de meu pai". Poesia preta cantada por nomes como Nat King Cole e Jamelão.
O livro me fez rememorar aqueles longos períodos em que passamos sofrendo com a ausência de alguém que amamos, a dor do fim de um relacionamento, a indiferença, a raiva, as decepções... e reforçou em mim, mais uma vez, a certeza do quanto o amor romântico é pernicioso, e do quanto eu não o quero. Me fez avaliar - pela milésima vez - as construções de relacionamentos que nos foram ensinadas. Pensei na Sobonfu Somé, nas suas pontuações sobre os relacionamentos... tudo na tentativa de redimensionar meus amores e ódios guardados.
O livro é composto, também, por dezenas de fotos de autoria da própria poetiza, retratos dos poemas do dia a dia. As imagem ilustram o livro, casam com os poemas, nos instigam a refletir a partir do concreto cotidiano. A escrita é leve e reflexiva. Doce e dura. Fica a dica de leitura e um poema, um dos meus favoritos, pra despertar a curiosidade pela obra. Um livro por semana como Garvey orientou. Que a poesia nos ensine a amar!
UHURU!
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A VELHA
A mulher é velha
o mundo é velho
o mar é velho e desbotado
a sombra não é suficiente
para proteger o corpo dela
corpo que não precisa
de proteção
é ela quem protege o mundo
amansa o mar
passeia na areia quente
deixa o sol queimar
seus velhos ombros
ela pensa é nos seus filhos
nos seus homens
nas vidas que se arrastam
sob suas saias
a bela velha é a dama
dona do universo
e dos meus pobres versos.
*Anin Urasse - Pan-africanista, mulherista africana, compartilhadora de pensamentos baseados nas leituras afrocentradas.
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